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17 abril 2024

A borracha que apagou o sol

 A borracha morava num canto do estojo escolar, mas não se dava lá muito bem com os lápis, as canetas, o compasso, a régua e o apara lápis, por estar convencida que era mais importante e poderosa que todos eles juntos. " É que, dizia ela, basta um gesto meu para apagar as letras, os algarismos e os traços com que se fazem os desenhos."

E acrescentava num tom ameaçador: "É só eu querer!"
Os seus vizinhos de estojo, que já conheciam o seu feitio e as suas manias, não davam grande importância ao que ela dizia.
O que é certo é que a borracha, capaz de apagar lápis e tinta, criava mau ambiente, de tal maneira que à sua volta ninguém se sentia bem.
Martim, o dono do estojo, gostava muito de desenhar. Passava horas seguidas à frente do papel a fazer árvores, barcos, montanhas, rios e cidades, comboios e praças cheias de gente
Um dia, a borracha, acordando ainda mais mal disposta do que era costume, virou-se para os companheiros e anunciou:
- Hoje é que vocês vão ver do que eu sou capaz!
Ninguém respondeu, mas ficou tudo à espera de ver do que ela era capaz.
Saltitando sobre um desenho bonito que Martim tinha terminado e em que se via o mar, gaivotas e o sol, a borracha, com graves movimento circulares, não esteve com medidas: apagou o sol! A página ficou escura e triste e os seus companheiros muito aflitos.
A situação foi salva pelo lápis amarelo, que voltou a desenhar um sol, ainda maior e mais bonito. A borracha voltou para o seu canto, numa grande resmunguice, e ainda ouviu o compasso dizer:
-O que ela está é gasta!
José Jorge Letria, in. "Histórias do Sono e do Sonho". Ilustração de João Lemos.

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